Quer comprar um papagaio?
Acabou de comprar um papagaio?
Tem um papagaio?
O que chamamos de “papagaios” inclui uma enorme variedade de espécies, do pequeno periquito à grande arara. Têm em comum serem lindos, terem uma grande alegria de viver desde que se sintam à vontade, e têm uma outra característica em comum com os seres humanos: detestam a solidão.
A primeira consideração importante antes de comprar um periquito, uma caturra, um papagaio cinzento ou um verde, uma arara ou uma catatua é a seguinte:
– estou ausente muito tempo de casa? Vou deixá-lo só muitas horas por dia?
Se assim for não adquira um só mas sim 2, eventualmente do mesmo sexo. Assim farão companhia um ao outro na sua ausência. Dir-lhe-ão: “2 juntos não falam”, “2 juntos não se ligarão a si”. Não é verdade. É perfeitamente possível desenvolver uma relação de amizade e confiança com cada um deles, dedicando tempo e atenção a cada um. Ficará então com 2 papagaios que adoram estar consigo mas que fazem companhia um ao outro na sua ausência.
Quanto ao mito “2 juntos não falam” não é verdade. Falar é uma característica individual e dentro de quase todas as espécies há os que falam mais, os que falam menos ou nada. É verdade que há espécies com maior probabilidade de serem “falantes” mas as variações individuais são também importantes. À medida que a sua relação de amizade e confiança se aprofundar, deixará de ser importante para si se o seu papagaio fala ou não! Porquê? Porque ele “falará” consigo de muitas outras maneiras, é só saber ver e escutar.
Alojamento: se o seu periquito ou papagaio puder esticar as asas durante algumas horas por dia fora da gaiola, a sua qualidade de vida será bem melhor. A verdade é que, por maior que seja, uma gaiola como habitação permanente é sempre pequena. Se puder pense na construção de um viveiro no jardim ou mesmo na marquise do apartamento. As correntes na pata são inadmissíveis e são prática de um país do terceiro mundo.
Vai comprar um papagaio bebé? Oponha-se a que lhe cortem as guias (penas das asas). Não compre um papagaio com as guias cortadas. Dir-lhe-ão que vai fugir. A segurança de uma ave criada à mão está em aprender a voar bem, na altura devida. Isso permitirá ser recuperado com muito maior facilidade do que se não tiver aprendido a voar. Deixe-a desenvolver a destreza no voo e manobrar dentro de casa. Mostre-lhe as janelas e os vidros, para que aprenda a não chocar com elas. Coloque redes nas janelas para evitar as saídas não programadas. Aprenda a treinar o chamamento, recompensando com um pequeno petisco quando sobe para a sua mão ou quando voa para si. Contacte com urgência o Clube dos Papagaios (www.clubedospapagaios.wordpress.com) se quiser que o seu papagaio bebé pratique o voo livre no exterior pois daremos todo o apoio. O treino deve começar o mais cedo possível. Voar parece fácil e instintivo mas é em boa parte aprendido quando a ave sai do ninho. Mesmo que opte por deixá-lo voar apenas na segurança do lar ou do viveiro, o seu papagaio será uma ave muito mais segura e “bem nas suas próprias penas” se tiver aprendido a voar em bebé do que se não tiver tido a oportunidade de aprender a voar na infância. É responsabilidade dos criadores em primeiro lugar (e dos novos donos-cuidadores em seguida) criarem as condições de espaço para que os papagaios bebés possam aprender a voar. Com esta pequena medida os papagaios que produzem terão menos problemas comportamentais e farão os seus donos mais felizes. A prazo será benéfico para o seu negócio.
Repito: se a sua ave aprender a voar bem na altura devida, será infinitamente mais fácil de recuperar se um dia sair de casa por uma janela ou porta abertas. A segurança está em aprender a voar na altura devida e no treino do chamamento..
Alimentação – tal como para nós humanos, a alimentação deverá ser o mais variada possível. Há alimentos que são tóxicos: chocolate, bebidas alcoólicas, abacate. Outros devem ser evitados, tal como na nossa alimentação: fritos, gorduras, muito sal ou açúcar.
Alimentos benéficos: sementes germinadas (usando um fungicida na água como o vinagre de cidra ou o GSE, vegetais crus e cozidos (todos: cenouras, nabos, bróculos, espinafres, courgettes, beringelas, aipo, etc), frutas, uma ração de preferência biológica, devem fazer parte da alimentação diária. As sementes e os frutos secos devem ser dados com moderação e são regra geral muito úteis para os treinos. Um osso de frango é uma boa fonte de cálcio e proteínas, assim como o ovo cozido e esmigalhado com casca. Boa parte da nossa alimentação pode ser também partilhada (sopa, arroz e massa crus ou cozidos, feijão cozido, etc). Varie.
Os banhos – habitue gradualmente e com suavidade o seu papagaio a tomar banho numa taça com água limpa.. Alguns preferem ser pulverizados com água morna 1 ou 2 vezes na semana ou mesmo mais. Evite provocar medo.
O aborrecimento – os papagaios passam muitas horas na natureza em busca da comida. Na gaiola aborrecem-se mortalmente. Coloque ramos e troncos de madeira para ele roer. Faça brinquedos com rolos vazios de papel higiénico e outros objetos que lhe interessem. As listas telefónicas antigas são uma fonte de entretenimento para alguns. Observe a linguagem corporal do seu papagaio e páre ao menor sinal de medo. Recue o objeto e deixe-o a uma distância que o papagaio o veja mas sem despoletar o medo. Diariamente aproxime o objeto mas sempre sem provocar o medo. Seja criativo, observe e respeite o seu papagaio mas preocupe-se em dar-lhe “trabalho” para fazer e objetos para roer e “estragar”. Mude com frequência os objetos dentro da gaiola.
Aprenda a treinar com reforço positivo. Isso enriquecerá a vida do seu papagaio (e a sua!) e criará uma plataforma de bom entendimento entre os 2. Lembre-se que se tudo correr bem o seu papagaio fará parte da sua vida para sempre e vale a pena todo o tempo e dedicação que lhe dedicar.
Isabel Sampaio
Clube dos Papagaios, 2013